domingo, 3 de maio de 2020

Carta para mulheres intensas.

Se você já ouviu a seguinte frase: "nossa, assim você assusta os homens", então essa carta é para você. Isso não é um manifesto feminista para dizer aos quatros cantos, que nós mulheres não precisamos de ninguém. Pelo contrário. Precisamos sim. O ser humano é social, e precisa sim de outros seres. 
Essa carta é um pedido de perdão, e talvez um pouco de conforto, pra você que assim como eu, precisa lidar com suas intensidades. Primeiro quero deixar claro, que isso não tem a ver com o sexo masculino, mas que nós, intensas que somos já sofremos com esse julgamento. E por mais que a gente diga que não, ele dói sim. 
Você fala alto, já ouviu alguém dizendo: "nossa, fala mais baixo". Naquele momento você só pensou: mas a minha voz é assim. Sua risada ecoa no ambiente, você ri de verdade, então você ouviu que sua risada é escandalosa, que você poderia ser mais discreta. Você já se sentiu "diferente" das amigas, pois nunca conseguia fingir uma opinião pra parecer um pouco mais recatada, mais santa. Você bebe igual um opala, senta de pernas abertas, grita, fala palavrão, não usa a roupa que "deveria" usar, não coloca o batom discreto, externamente esses são apenas alguns dos fatos diários que você precisa ouvir. Então essa carta é pra você. 
Mesmo que um milésimo de segundo você já cogitou na sua mente, ser uma mulher "normal". Eu sei que sim. Eu também. Você já pensou em seguir o padrão e ter menos discussões, ser menos julgada, ter menos problemas, e mais plateia. Eu sei que já, pois eu também já fiz. Você já quis ser adaptável, afinal a maioria é. Então porque diabos, logo eu, não sou? 
Por dentro é mais difícil lidar. As vezes você oferece silêncio, porque sabe que se disser a sua verdade, além de incomodar, vai doer também. As pessoas não estão preparadas pra quem você é; Eu sei que você já teve essa impressão. Já quis se diminuir pra caber em alguém? Óbvio que já. Eu também. Era mais fácil né? E aí você ouviu, "ah vocês não deram certo, porque você não soube ceder". Ninguém te olhou no olhos e disse que a culpa era sua, mas também não precisou. 
Tô aqui pra te dizer: tudo bem ser tão intensa; Se perdoe. 
Tudo bem não querer o que todo mundo quer, não ser o que todas as outras são, elas não estão erradas, mas você aí também não está. Já percebeu que todo furacão tem nome de mulher? É em nossa homenagem (não é, mas deveria). Ás vezes a gente sai arrastando tudo, quando vê já derrubou. A tempestade por dentro é tão forte que transborda. Já viu oceano caber num copo? 
Você, moça tão linda, que grita, fala alto, fala tudo que dá na telha, e ouviu a vida inteira que ter um relacionamento com você mesma é muito importante mas até hoje não conseguiu se achar, você mesma: ESTÁ TUDO BEM! 
Não se limite, se transforme, se perdoe, se transborde. Nem todas as pessoas vão entender quem você é. Você sempre vai ser julgada em dobro, sempre vai ser a "emocionada"( já ouviu essa também né? é nova!), sempre vai ser a escandalosa, dramática, que gosta de um palco. Vai ser exagerada, e sim, sempre vai assustar muita gente, e por mais que eu não queira que seja assim, ainda vai ouvir muito aquela frase lá do início.
Mas quero te dizer uma coisa, suas intensidades, definem exatamente quem você é. Comportamentos cheios de padrão, definem pessoas dentro de um padrão. Pensar e ser fora da casinha, define um ser completamente diferente, disposto a enfrentar quem diz que ser diferente é estranho. 
Estamos no meio do discurso de empatia, isso desde que você faça o esperado, do contrário estamos na era do cancelamento. Nós intensas, seriamos facilmente canceladas. 
Lembre-se sempre, você só diz em voz alta, aquilo que a maioria pensa em silêncio. 


Perdoe-se, é uma delicia ser quem você é. 
SEJA! 

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