domingo, 4 de abril de 2021

Teu beijo com gosto de fim.

 Acredito quando dizem que atos desesperados e impensados tornam coisas pequenas em grandes cenas dignas de novela das nove. Eu disse entre suspiros e algumas cervejas que gostaria que você viesse e que fôssemos capazes de resolver tudo como dois adultos. 

    A verdade é que eu estava com medo do adeus, e só queria que você tivesse me dito coisas bonitas sobre nós. E não eram essas palavras que sairiam da sua boca. Em pouco tempo sua boca estava na minha, a minha respiração não me obedecia mais. Um beijo. E teu beijo tinha gosto de fim. Tinha gosto daqueles finais sem nexo de um filme de drama. Daqueles que a gente passa horas no catálogo escolhendo e no fim escolhe um qualquer que termina sem emoção e sem sentido. Teu beijo tinha esse gosto. 

     Você suspirou no meu ouvido sem nenhum pudor sobre o que faria a seguir, meu lado racional estava dissolvido nas cervejas que eu havia tomado. Minha mente, meu corpo, e cada milímetro da minha alma queria você. Queria seus olhos me fodendo antes mesmo do seu corpo entrar no meu. Queria seu cheiro, seu gosto e sua voz cheia de tesão me mandando ajoelhar. E era assim que eu queria estar. Entregue, ajoelhada e pronta pra você; 

O que aconteceu depois você sabe, eu sei. A gente colocou a mágoa pra correr na frente e quando vimos a raiva acendeu a luz daquele quarto. Você sem condições de dizer adeus, e eu sem expectativa nenhuma de continuar o que havíamos combinado desde o ínicio: vai ser só sexo e ponto final. Vírgulas, reticências e pontos de extrema exclamação aconteceram. Aconteceu meu corpo em cima do seu durante a madrugada, aconteceu meus gritos que com certeza chamaram a atenção dos vizinhos, aconteceram os tapas desesperados pra me lembrar que eu não tinha opções. Aconteceu você, aconteceu nós dois. 

    Cada vez que eu fechar os olhos essa noite eu vou lembrar do teu corpo em chamas me implorando prazer, vou lembrar dos seus gemidos deliciosos e altos no meu ouvido me pedindo mais. Teu pau me invadindo sem nenhum pudor e pressa. Tuas mãos tão frias e trêmulas com medo de tudo e coragem ao mesmo tempo. Você mergulhou em mim, um desconhecido furacão nas tuas mãos. Eu mergulhei em você, toda minha solidão deixada pra trás, e sua risada dizendo que tinha certeza do que estava fazendo. E tinha?

Você tinha certeza de quando me puxava os cabelos e me mandava chupar? Ou suas certezas iam embora quando me amarrava na janela e me mandava calar a boca que você estava só começando. Suas certezas desapareciam quando eu invadia seu pau com minha boca, quando eu te dava certeza que era ali sentando que eu queria estar. Quando depois de um longo dia cansativo era no seu colo que eu queria adormecer. Depois de muito foder, claro. O sol entrando na janela é testemunha de um casal que sabia se transformar quando as luzes apagavam. E era sempre igual, eu despencando na cama e você tirando a roupa sem pedir. Desligando a luz e me dizendo que hoje iríamos só dormir. Teu desejo estendido pra mim quando eu empino a bunda e te mando bater. Bate que é exatamente assim que eu gosto. 

     Eu ainda não sei como converter desejo em ódio, como transformar tesão em mágoa, como traduzir para minha boceta nessa noite que eu vou sonhar com você, mas não vou ter seu pau garganta abaixo me fazendo engasgar como você gosta. Eu ainda não sei encarar o fim. Como eu só sei resolver as coisas de um jeito você sabe onde vou terminar a noite, enroscada nos lençois com gosto de nós dois na boca, dedos na minha boceta e um grito de prazer engasgado que você nunca mais vai ouvir.