E que doce mentira ela conta todos os dias a si mesma. Nunca parou pra pensar, e se alguém quiser ficar? E se quiser fazer morada? E se simplesmente quiser namorar sobre o muro? Seu muro.
Não ela nunca pensou nessa possibilidade, ela nunca sequer cogitou que algum dia alguém tivesse coragem de ficar, desvendar o que ela é. Ela tem motivos pra isso. Ninguém nunca conseguiu. Ninguém nunca implorou. Ninguém nunca aguentou. Ás vezes nem ela própria aguenta, nem ela sabe como amenizar tantas marcas, tantas dores. O que ela faz todos os dias, é mentir pra si mesma dizendo pra quem quiser ouvir, que não, nunca ninguém irá ficar. Mesmo que alguns digam que não tem medo do que ela possa ser, mesmo que alguns experimentem a sensação de penetrar no seu interior, mesmo que com todas as suas tolices alguém ouse sorrir dela, mesmo assim ela ainda conta a mesma mentira, diariamente. Pode ser, que qualquer dia desses ela se canse de mentir. Mas ela, incansavelmente, nunca baixa sua guarda. Nunca move seu muro, nunca destroí sua parede, aliás, suas paredes. Quase uma casa em volta dela, quase um labirinto dentro dela. Quase uma muralha fora dela. Ela tem motivos pra isso. Mesmo que alguns acreditem que não. Mesmo que o passado tenha sido desfeito com o tempo. Ela tem motivos. E quando alguém questiona tais motivos, ela simplesmente sorri, e questiona com mais força ainda: Quer mesmo saber?
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